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Atos terroristas contra a democracia repercutem na Câmara Legislativa

Publicado em 09/01/2023 19h39

Após os atos terroristas praticados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que chocaram a Capital Federal no último domingo (8), a Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou sessão extraordinária nesta segunda-feira (9) para avaliar a crise instalada no Governo do Distrito Federal com o afastamento do governador Ibaneis Rocha (MDB) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), bem como a decretação de intervenção federal na Segurança Pública local.

Todos os parlamentares que se manifestaram no plenário condenaram os atos de depredação do patrimônio público, mas houve discordância a respeito da responsabilização do governador Ibaneis Rocha pelas falhas de segurança durante o ataque terrorista na Praça dos Três Poderes. Para o deputado Gabriel Magno (PT), a culpa do governador é clara. “Faltou segurança por omissão e cumplicidade do governador Ibaneis Rocha e do secretário de Segurança Pública Anderson Torres, que inclusive está nos Estados Unidos provavelmente combinando tudo com Bolsonaro”, afirmou.

O deputado Fábio Félix (PSOL) também creditou responsabilidade ao governador e pediu que sejam investigados os atos praticados no dia 12 de dezembro de 2022, quando bolsonaristas incendiaram ônibus no centro de Brasília. “O que nós vimos ontem foi uma omissão do comando das forças de segurança e obviamente quem responde por isso é o governador Ibaneis Rocha. Por isso estamos pedindo uma CPI para investigar a omissão do Estado no dia 12/12/2022 e no dia 08/01/2023”, disse. O distrital também defendeu a instauração de um processo de impeachment contra o governador, ressaltando que “ele vai ter toda a oportunidade de se defender no processo”.

Chico Vigilante (PT) lembrou que esteve junto com a ex-deputada distrital Arlete Sampaio (PT) numa reunião com o governador Ibaneis Rocha no ano passado e que o alertou sobre o risco de se nomear Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, para chefiar a segurança local. “Eu e Arlete procuramos o Ibaneis para dizer que não era correta a nomeação de Anderson Torres. O governador não atendeu nosso pedido e o nomeou. Agora está aí o resultado”, observou.

O deputado Max Maciel (PSOL) também relatou ter alertado o GDF a respeito do risco de se permitir que golpistas permanecessem acampados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. “A gente vem notificando o GDF sobre o acampamento em frente ao QG. Essa turma iniciou a destruição da Capital no dia 12/12. Pedimos para expulsarem as pessoas daqueles acampamentos. Logo em seguida, colocaram uma bomba num caminhão de querosene no aeroporto de Brasília. Eles vêm planejando atentar contra a democracia na capital do país há muito tempo. O GDF prevaricou”, afirmou.

Ricardo Vale (PT) cobrou investigação pelo Poder Legislativo. “Tem muita gente do DF envolvida nesses atos e que tem que pagar pelo que aconteceu. Precisamos ajudar o Poder Judiciário a identificar esses fascistas. Desde que Lula ganhou as eleições que esse pessoal está pedindo intervenção militar, o que é um crime. Incendiaram ônibus e ninguém foi preso. Não existe nada de legítimo no que esse pessoal está fazendo”, reclamou.

Defesa do governo - Vários deputados manifestaram solidariedade ao governador Ibaneis Rocha e críticas ao seu afastamento. Joaquim Roriz Neto (PL) foi o primeiro a declarar apoio ao governador afastado. “O princípio do terrorismo é a sua imprevisibilidade. Terrorismo não tem como se prever. Não concordo com atos de oportunismo que jogam a responsabilidade na conta do nosso governador Ibaneis Rocha”, disse.

Para Hermeto (MDB), a responsabilidade pelo ocorrido tem que ser compartilhada com o governo federal. “O efetivo da polícia era menor do que se precisava? Sim. Mas nós temos um governo federal. A Abin deveria ter alertado. Não é só a polícia do DF. Que não se jogue a culpa só na polícia do DF, no governo Ibaneis”, afirmou. O distrital também chamou os pedidos de impeachment contra Ibaneis Rocha de “oportunismo barato de quem perdeu a eleição no primeiro turno”, referindo-se ao ex-deputado distrital e candidato derrotado ao GDF em 2022, Leandro Grass (PV), que mais cedo protocolou na CLDF um pedido de afastamento do governador em nome de seu partido.

Iolando (MDB) também criticou o afastamento de Ibaneis Rocha. “Quero manifestar repúdio ao afastamento do governador Ibaneis, foi uma atitude arbitrária tomada num momento emocional”, disse. Já Eduardo Pedrosa (União Brasil) defendeu as forças de segurança. “Não podemos colocar todos os policiais nesse bojo, pois temos profissionais exemplares no DF. Não podemos generalizar. É necessário dividir responsabilidade, não é certo colocar toda a responsabilidade no GDF e na PM”, defendeu Pedrosa.

Para o deputado Pastor Daniel de Castro (PP), nem todos os que participaram dos atos são criminosos. “Creio que naquele acampamento há homens e mulheres de bem, são pessoas que estão ali orando. Não se pode generalizar. Vamos punir, mas apenas os que praticaram os atos”, defendeu. Doutora Jane (Agir) seguiu a mesma linha. “Eu tenho amigas que estavam acampadas. Se são terroristas, criminosos, isso é questão de retórica. Temos que preservar as pessoas que estavam ali de boa fé, e não eram poucas”, defendeu.

Roosevelt Vilela (PL) defendeu a Polícia Militar do DF das acusações de conivência com os atos terroristas. “A Polícia Militar, que é a melhor do país, fez o seu papel, cumpriu o seu papel. A PM é uma estrutura hierarquizada. Existe uma cadeia de comando. Se houve negligência, essa negligência não partiu dos militares que estavam na ponta. O secretário adjunto de Segurança Pública havia garantido ao governador que estava tudo sob controle, então o governador foi induzido ao erro. Entendo que o afastamento do governador foi imprudente, ilegal e desnecessário”, afirmou Roosevelt.

Paula Belmonte (Cidadania) também procurou responsabilizar o governo federal pelo ocorrido. “Ato de vandalismo é uma coisa, manifestação é outra. A manifestação democrática tem que acontecer. Faltou articulação da nossa secretaria, mas também faltou monitoramento federal. Houve omissão do governo federal e do Ministério da Defesa”, apontou. Já Jorge Vianna (PSD) pediu prudência na responsabilização. “É impossível que a segurança pública desloque todo seu batalhão em todas as manifestações. Houve o erro de não ter o efetivo para garantir a segurança, mas ninguém consegue segurar um grupo mais radical. Onde passa um boi, passa a boiada. É o efeito manada. Não quero tirar culpabilidade de ninguém, mas não podemos querer cabeças tão rapidamente”, disse Vianna.

Robério Negreiros (PSD), líder do governo na Casa, afirmou ser contra “colocar no colo do Ibaneis uma responsabilidade que deve ser compartilhada”. Para o distrital, “se o ministro da Justiça, Flávio Dino, convocou a Força Nacional de Segurança, então há compartilhamento de responsabilidades”. Negreiros garantiu ainda que “o governador Ibaneis não é contrário a uma investigação plena por uma CPI nesta Casa”.

O deputado Reginaldo Sardinha (PL) fez uma defesa da polícia. “Nós, policiais, pensamos duas vezes antes de agir contra um cidadão, pois muitas vezes o policial fica sozinho respondendo uma sindicância. O policial muitas vezes pode perder seu emprego por causa disso. Quero deixar minha solidariedade ao governador Ibaneis, que vem fazendo um trabalho espetacular”, afirmou. Pepa (PP) concordou com o colega. “A PM merece o nosso respeito. É muito fácil atacar as forças de segurança do DF. É preciso responsabilizar outras forças que deveriam estar lá”, disse.

Eder Wen - Agência CLDF