A conjuntura política e geopolítica internacional exige de Brasília um papel histórico de se tornar uma cidade global. Uma cidade global pode ser caracterizada como uma metrópole que apresenta um sistema avançado de transportes públicos, saúde, política de segurança pública focada na cidadania, programas de amparo à criança e adolescente, políticas de cidadania para a mulher, sistema educacional avançado e ancorado em instituições universitárias relevantes, otimização de redes de serviços e participação em eventos internacionais.

A influência dessas cidades está distribuída em três níveis ou categorias (Alfa, Beta e Gama). No nível Alfa, primeira categoria de importância, está Londres, Nova Iorque, Paris, entre outras cidades. São Paulo, por exemplo, está na categoria Beta, ao lado de cidades como Sidney e Toronto. Já Pequim, Boston e Amsterdã estão agrupadas no nível Gama. Brasília, capital da República, não aparece em nenhuma categoria.

Para que Brasília seja uma cidade global, é necessário o compromisso com políticas públicas que a transformem numa metrópole sustentável e capaz de oferecer serviços públicos de qualidade aos cidadãos. Além disso, é preciso que o sistema educacional melhore a qualidade e dê mais ênfase na questão do aprendizado de outras línguas. Brasília também deverá contemplar a cultura brasileira e a arte clássica. É bom lembrar que a arte clássica é uma ferramenta de interação diplomática. 

Outro quesito a ser contemplado é a influência e a participação em eventos internacionais. Por exemplo, em Nova Iorque está situada a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) e, em Bruxelas, a Organização do Tratado do Atlântico Norte e da União Européia. E por que a sede da FAO não está no Brasil, e em Brasília? Por que está em Roma, se somos o maior produtor de alimentos do mundo?

Dominar outras línguas é fundamental para uma cidade global e, aqui, estão as embaixadas e inúmeras organizações internacionais, sem contar as inúmeras escolas e uma juventude estudantil.

Nossa capital tem outros potenciais para receber visitantes de todo o mundo. Para isso, é importante que a cidade tenha um aeroporto internacional de grande porte e, neste aspecto, o Distrito Federal está no rumo certo. O Aeroporto Internacional de Brasília poderá se transformar numa ponte central do tráfego aéreo da América Latina. Mas é importante que a cidade esteja preparada para receber pessoas de todo o mundo.

Brasília tem tudo para agradar aos visitantes e a população. Ela foi planejada, com uma arquitetura moderna e arrojada. Nasceu com vocação para ser uma cidade global. Nela, um caldeirão cultural aglutina diversas culturas. Acredito que esse novo olhar sobre Brasília possa ser capaz de mobilizar e aglutinar amplos setores. Por isso, fomentar a proposta de torná-la uma cidade mundial, sustentável, atualiza e resgata a vocação da capital como um novo marco civilizatório, ideia gênese de sua criação.

Juscelino Kubitschek, Oscar Niemayer, Lúcio Costa e outros gênios sonharam com uma cidade que significasse um novo marco civilizatório. Nosso ilustre morador, sonhador, fundador e professor da Universidade de Brasília, Darcy Ribeiro, dizia que Brasília representava uma nova possibilidade civilizatória devido à diversidade que a cidade apresentava na época. Ele repetiu a profecia de Dom Bosco. Agora está na hora de resgatar nossa vocação de cidade global e cosmopolita e concretizar esse sonho.

* Joe Valle é ambientalista e deputado distrital pelo PSB