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CLDF debate busca ativa, prevenção e tratamento do HIV/aids no DF

Audiência pública reforça importância do diagnóstico precoce, adesão ao tratamento e enfrentamento ao estigma. Dados apontam desafios para garantir continuidade do cuidado
Publicado em 12/12/2025 12h57

Foto: Reprodução YouTube TV Câmara Distrital

No mês de conscientização sobre HIV/aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), a Câmara Legislativa do Distrito Federal colocou em debate os desafios e estratégias para busca ativa no combate ao vírus. Conduzida pelo deputado Fábio Felix (PSOL), a audiência pública aconteceu na noite desta quinta-feira (11) com a participação de representantes da Secretaria de Saúde, especialistas, ativistas e membros da sociedade civil.

Na abertura do debate, Fábio Félix destacou a importância do tema e alertou para o aumento da descontinuidade no tratamento antirretroviral: “Muitas pessoas têm abandonado o acompanhamento, o que compromete a prevenção e aumenta o risco de novas infecções”. O distrital, que é presidente da Frente Parlamentar de Prevenção às ISTs e Defesa das Pessoas com HIV/aids, defendeu estratégias como visitas domiciliares e fortalecimento da atenção primária, para garantir adesão ao tratamento.

 

Dados preocupantes

A gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde, Beatriz Luz, apresentou números da realidade do DF: atualmente, 18 mil pessoas vivem com HIV, das quais 3.149 interromperam o tratamento antirretroviral (Tarv), o que representa 17% do total. Ainda de acordo com a gestora, 87% das pessoas em tratamento têm carga viral indetectável.

Apesar da redução dos casos de aids no DF – de 270 em 2020 para 169 em 2025 –, a unidade federativa registra de 700 a 800 novos casos de HIV por ano, informou Beatriz Luz. “Quase 50% dos óbitos por aids ocorrem menos de cinco anos após o diagnóstico”, alertou, ressaltando a relevância da detecção precoce, da busca ativa e da continuidade do tratamento.

O tempo entre o diagnóstico e o início da terapia antirretroviral foi um dos pontos críticos apontados pelo infectologista Lino Neves, da Policlínica de Ceilândia. “A recomendação é iniciar o tratamento em até sete dias, mas só conseguimos isso em 26% dos casos”, destacou. Ele defendeu maior integração entre serviços especializados, atenção primária e movimentos sociais: “Precisamos reduzir barreiras e usar a força das redes comunitárias para trazer essas pessoas”.

 

Estigma e falta de informação

Participantes também apontaram o estigma como fator determinante para a evasão dos serviços. “Muitas pessoas evitam buscar tratamento por medo de serem identificadas”, explicou o médico Daniel Aguiar, voluntário em programas de prevenção. 

Ele ressaltou, também, que a falta de informação é um obstáculo para a prevenção: “Muita gente nem sabe o que é PrEP [do inglês Pre-Exposure Prophylaxis]. Isso mostra como precisamos ampliar a comunicação”. Essa profilaxia pré-exposição consiste em tomar comprimidos que bloqueiam alguns caminhos que o HIV usa para infectar o organismo, antes das relações sexuais, permitindo ao corpo estar preparado para enfrentar um possível contato com o vírus.

A multiartista e ativista Vênus Venâncio trouxe uma perspectiva cultural e social, destacando a vulnerabilidade de jovens e mulheres trans. “Não é falta de responsabilidade individual; é ausência de políticas públicas, educação sexual e serviços acolhedores”, afirmou. Ela defendeu investimentos em formação e empregabilidade para as populações mais vulneráveis.

 

Resposta integrada

A representante do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids no Brasil (Unaids Brasil), Andréia Bocardi, pregou que a resposta ao HIV deve ser integrada: “Não podemos fragmentar prevenção, diagnóstico e cuidado. É preciso enfrentar preconceitos e garantir acesso universal”. 

Além disso, Bocardi defendeu: “As lideranças comunitárias são fundamentais para aproximar os serviços das populações mais vulneráveis”.

 

Encaminhamentos e propostas

Entre as propostas e demandas apresentadas na audiência pública, estão o fortalecimento da busca ativa com o apoio de agentes comunitários e lideranças sociais; a realização de campanhas de comunicação não-estigmatizantes, voltadas a públicos específicos; e parcerias com organizações da sociedade civil para localizar pessoas que interromperam tratamento.

O deputado Fábio Felix encerrou o debate reforçando a necessidade de articulação intersetorial: “A saúde não dá conta sozinha. Precisamos envolver assistência social, educação e mobilidade para garantir acesso e adesão”.

 

 

Denise Caputo - Agência CLDF

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