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Ex-coordenador de inteligência diz à CPI que gestores sabiam dos riscos de segurança

Publicado em 30/03/2023 12h05

Foto: Rinaldo Morelli/CLDF

Jorge da Silva Pinto enfatizou que os dados sobre a ameaça de "tomada de poder" foram "reunidos e repassados para o secretário executivo”. Ele disse ainda que a inteligência não falhou

O coronel da Polícia Militar Jorge da Silva Pinto, ex-coordenador de Assuntos Institucionais da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP), disse à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa, nesta quinta-feira (30), que “todas as informações” foram repassadas ao então secretário executivo, Fernando Oliveira, e compartilhada em grupo de mensagens do qual fazia parte o secretário da SSP, Anderson Torres.

Os informes, que se intensificaram a partir do dia 5 de janeiro, apontavam o risco de confronto dos golpistas com os policiais e, no próprio dia 8 de janeiros, a chegada de 126 ônibus e 2.500 “manifestantes” em Brasília. “Não sei de que forma os decisores entenderam os meus alertas”, afirmou.

De acordo com o oficial, a inteligência detectou a organização do ato “tomada de poder”, previsto para os dias 7 e 8, e uma greve geral, a partir do dia 9. “O trabalho foi feito, foi desenvolvido, todos os órgãos foram integrados por meio de célula de inteligência justamente para viabilizar o contato dos seus analistas e profissionais de inteligência com os decisores dos demais órgãos”, ressaltou.
 

 

Ele ainda frisou que “todos esses dados foram reunidos e repassados para o secretário executivo” e que a inteligência “com absoluta certeza” não falhou: “Não podemos nos frustrar porque nós não tomamos decisões”.

Interesse

O presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), levantou a suspeita de que as falhas podem ter sido intencionais, já que os riscos eram de conhecimento dos diversos órgãos: “Coronel, pelo que o senhor está dizendo aqui, eu chego à conclusão de que aquela baderna interessava a alguém”, frisou.

O deputado Fábio Félix registrou que, por outro lado, que Anderson Torres culpa a inteligência: “ele disse em depoimento à PF que não recebeu informações em relação a esses movimentos”. Ele também disse que os acampamentos no QG do exército funcionaram como “incubadoras para um processo de ascenso violento da ação desses manifestantes que já pediam golpe de estado”. O coronel, no entanto, afirmou que não recebeu nenhuma informação sobre os acampamentos. 
 


Segundo o relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), a Polícia Militar está com “efetivo insuficiente”, o que pode ter contribuído para que ocorressem falhas no dia dos atos, argumentando que “a tropa se encontrava cansada de tantos eventos que vinham desgastando a PM”. 

Para o deputado Thiago Manzoni (PL), é preciso investigar as responsabilidade dos agentes do governo federal. “Temos o dever moral de compartilhar as responsabilidades. Não é só o GDF que tem responsabilidade, não é só o governador Ibaneis, não é só nossa SSP, nossa PMDF. Em suma, não é o DF que tem responsabilidade pelos atos que aconteceram”, reforçou.

 

 

De acordo com ele, a Presidência da República e o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, também teriam conhecimento dos riscos: “Não tenho dúvida que houve erro, mas é um erro coletivo, que não pode ser atribuído só às forças de segurança do DF. Sabia-se do que havia possibilidade de acontecer e não foi tomada nenhuma providência”.

Requerimento - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos aprovou requerimento para solicitar junto à Secretaria de Segurança Pública e à Polícia Militar do Distrito Federal o compartilhamento de todas as informações de inquéritos policiais militares que correspondem aos praças e aos oficiais que tenham relação com os ataques aos poderes.

A matéria foi incluída extra-pauta e teve votos favoráveis dos deputados Hermeto, autor do requerimento, Fábio Felix (Psol), Pepa (PP), Thiago Manzoni e Chico Vigilante.

Mario Espinheira/ Francisco Espínola - Agência CLDF