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Luta antirracista é tema central de solenidade com a ministra Anielle Franco

Representantes de movimentos sociais ligados à causa da igualdade racial destacaram o empenho da ministra frente à pasta
Publicado em 15/05/2024 15h21

Foto: Eurico Eduardo/ Agência CLDF

A Câmara Legislativa do Distrito Federal entregou uma moção honrosa à ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em solenidade realizada nesta quarta-feira (15) no plenário da Casa. A iniciativa da homenagem é do deputado Max Maciel (PSOL), que destacou a importância da luta antirracista e de defesa da população negra liderada por Anielle em sua atuação ministerial.

O deputado ressaltou a trajetória de vida e a atuação política da agraciada, afirmando que ela tem se tornado uma das grandes referências da luta contra o racismo, servindo de exemplo no Brasil e no exterior. "Olhando sua trajetória, com tudo o que você tem construído ao longo de toda sua vida. Perpassando seu sucesso no esporte, na vida acadêmica e na vida profissional, em especial à frente do Ministério, desde o início do governo, notamos toda a sua potencialidade e é nítido que sempre esteve atrelada na defesa dos direitos humanos e na luta por direitos da população negra", afirmou Maciel.

O deputado pontuou também que a abolição da escravatura no Brasil, celebrada em 13 de maio, ainda está longe de ter alcançado seus objetivos e que a luta política é ferramenta essencial para a conscientização por um país antirracista. "Bem sabemos que não é dia de celebração, e bem sabemos que a escravidão não acabou", afirmou.

 

 

Atuação

Representantes de grupos que promovem a luta antirracista enalteceram as ações do ministério chefiado pela homenageada. A atuação de Anielle junto aos congressistas para a aprovação da revisão da Lei de Cotas foi uma das iniciativas destacadas. A recente reforma traz alterações substanciais na inclusão de estudantes negros, pardos, indígenas, quilombolas, com deficiência e de baixa renda nas universidades e institutos federais, ampliando as oportunidades dessas pessoas para ocuparem tais espaços.

Outra ação exaltada foi a criação do ‘Projeto Juventude Negra Viva’, que busca a redução das vulnerabilidades que afetam a juventude negra brasileira e a violência letal alicerçada no racismo estrutural no Brasil. Maciel destacou que vem buscando a implementação, no âmbito do DF, do programa criado pelo ministério.

Exemplo

“O trabalho de Anielle junto à Fundação Marielle Franco e, agora, frente ao Ministério da Igualdade Racial é um exemplo para nós”, afirmou a deputada federal Carol Dartora (PT-PR). A parlamentar, que é a primeira vereadora negra de Curitiba e primeira deputada federal negra pelo Paraná, contou que sua trajetória política foi profundamente influenciada pela luta da ministra e de sua irmã Marielle, assassinada em 2018. “Fui eleita como uma semente de Marielle”, afirmou a parlamentar.

Para a secretária executiva da Igualdade Racial, Roberta Eugênio, a ministra Anielle não só preservou o legado da irmã, como tornou-se também um símbolo de luta contra o racismo estrutural enraizado no país desde a escravidão. A secretária afirmou, contudo, que o país não pode mais permitir que as figuras negras de destaque precisem morrer para que suas vozes sejam ouvidas. “Não queremos mártires”, declarou.

Os deputados Chico Vigilante (PT) e Dayse Amarilio (PSB) também renderam homenagens à agraciada. Para Vigilante, a moção honrosa é “mais do que justa”, uma vez que Anielle tem sido símbolo de conscientização política no combate à desigualdade racial.

Amarilio destacou as dificuldades enfrentadas por mulheres para alcançarem postos de destaque no Brasil, afirmando que a dificuldade é ainda mais acentuada quando se trata de uma mulher negra. “A gente vive num país muito racista e machista. Marielle vive em você e em nós. Você é símbolo de representatividade”, elogiou.

O distrital Fábio Félix (Psol) e a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) também fizeram questão de frisar a relevância de Anielle e os desafios que o Governo Federal vêm enfrentando para combater o racismo, o machismo e o sexismo, principalmente num cenário de redes sociais que sofrem com o aumento do fluxo de ‘fake news’. “Esse país precisa enfrentar com todas as forças o racismo. Para fazer esse enfrentamento precisamos de orçamento”, declarou Félix.

Kokay comentou sobre as várias formas de racismo que precisam ser combatidas e que o ministério da igualdade racial precisa ter como pauta de combate, como o racismo ambiental, institucional e religioso. “Jamais os tambores serão calados nesse país”, afirmou em referência ao preconceito sofrido pelos adeptos das religiões de matriz africana.

Anielle contou sobre o difícil período vivido após o assassinato de sua irmã e sobre e as diversas violências sofridas pela sua família por conta de ‘fake news’ criadas e pela inoperância do Estado em solucionar o caso. “Tive que combater fake news desde o dia que mataram marielle até hoje”, lamentou.

Ela mencionou ainda a importância do apoio familiar em sua trajetória de lutas por igualdade e sobre como as dificuldades sofridas enquanto mulher negra moradora de comunidade a fizeram mais resiliente. “Para estar neste lugar, a gente tem que lembrar de onde veio e saber onde quer chegar”, declarou.

A ministra defendeu um projeto de política igualitário, antirracista e anti-sexista como atuação prioritária do Estado, e colocou o ministério sob sua gestão à disposição para debates e proposições que envolvem as causas. “Eu acredito numa política coletiva, que olha para todos, todas e todes de maneira igual”, afirmou a ministra.

 


Histórico de luta

Nascida na favela da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), Anielle Franco cresceu em um ambiente marcado pela desigualdade social. Começou a jogar vôlei ainda na adolescência, buscando, por meio do esporte, algum tipo de ascensão para sua família. Ainda aos 16 anos, conquistou uma bolsa de estudos esportiva nos Estados Unidos, onde morou por 12 anos.

Após a morte da irmã, Anielle assumiu um papel de destaque na busca por respostas e por justiça. O caso teve repercussão internacional e os mandantes foram identificados pela justiça apenas seis anos após o crime.

A ministra é formada em letras, inglês e jornalismo, e é mestra em relações etnicorraciais. Nos EUA, desenvolveu diversas atividades, dentre elas, trabalhou como tradutora em penitenciária.

Em 2023, foi eleita como “uma das 12 mulheres do ano” pela Revista Time, sendo lembrada pela publicação por assumir a dianteira na busca por justiça pela irmã e pelas causas que ela defende, como a igualdade racial.

 

 

Christopher Gama - Agência CLDF de Notícias