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No Dia Internacional contra a LGBTfobia (17), audiência debate a criminalização da homotransfobia no DF

Publicado em 17/05/2021 18h58

Foto: Reprodução/TV Web CLDF

Audiência, proposta pelo deputado Fábio Felix, analisou dados de pesquisa realizada pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH)

Audiência, proposta pelo deputado Fábio Felix, analisou dados de pesquisa realizada pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH)

No Dia Internacional contra a LGBTfobia (17), a Câmara Legislativa debateu os impactos da criminalização da Homotransfobia no DF, com base em pesquisa realizada pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH). A audiência pública remota, na tarde desta segunda-feira (17), foi transmitida ao vivo pela TV Web e pelo canal da Casa no Youtube. 

O mediador do encontro, deputado Fábio Felix (PSOL), contextualizou o avanço obtido com a decisão do Supremo Tribunal Federal (ADO nº 26/19), que, em 2019, garantiu a criminalização da LGBTfobia no País, ao destacar, por outro lado, os “muitos desafios para sua implementação na prática”. Entre as conquistas, ele elogiou o Procedimento Operacional Padrão (POP) da Homotransfobia, que estabelece como deve ser o tratamento da população LGBT nas delegacias de polícia e unidades de atendimento ao público, criado em agosto de 2019 pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) e pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). Felix observou que o POP foi um marco importante e o DF pioneiro na criação de um mecanismo de combate à LGBTfobia em delegacias.  No entanto, ainda faltam, segundo o parlamentar, formação e orientação para os profissionais, além de políticas públicas a fim de garantir a operacionalização da decisão do Supremo. Nesse cenário, o parlamentar assinalou a relevância da pesquisa realizada pelo CDDH, no sentido de apresentar informações sobre o tema.

A pesquisa do CDDH abarca o levantamento de dados coletados em 2018, 2019 e 2010, relacionados à violência sofrida pela população de LGBTQIA+ no Distrito Federal. De acordo com o relatório, apresentado pelos ativistas e pesquisadores Dandara Nascimento e Michel Platini, os dados e análises sobre a violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queers, intersexuais, assexuais+, “contribui para uma construção alicerçada nos direitos humanos, no direito de ser o que somos e de existir”. 

Tipificar a violência contra pessoas LGBTQIA + como crimes de ódio com base em sua sexualidade ou gênero e analisar os reflexos da decisão do Supremo no quantitativo de ocorrências de violência contra a população LGBTQIA+ no DF, a partir dos dados fornecidos pelo sistema de segurança e justiça distrital, foram alguns dos objetivos da pesquisa. Entre outros elementos, o relatório apontou que houve 278 registros de ocorrência em 2018; 505 em 2019; 391 em 2020. Na análise, o CDDH considerou que houve um aumento do número de ocorrências após a decisão do Supremo, mas que o fator pandemia pode ter influenciado o resultado.

Dados e políticas públicas

Na avaliação do advogado Paulo Iotti, que é especialista em Direito da Diversidade Sexual e de Gênero e em Direito Homoafetivo, o estudo do CDDH é meritório, especialmente no contexto de escassez de dados sobre a temática. Iotti, que é mestre e doutor em Direito Constitucional, fez uma ampla explanação sobre racismo, injúria racial e homotransfobia, e sugeriu, para as futuras pesquisas, não apenas os registros quantitativos, mas também qualitativos das ocorrências, além de chamar a atenção para a homotransfobia estrutural.  

À frente da Decrin, a delegada Ângela Maria Santos concordou com a existência da homotransfobia estrutural, ao reforçar a importância do POP e o trabalho de “vanguarda” desenvolvido por aquela delegacia. Sobre o relatório do CDDH, ela alertou que precisam ser revistos os números de ocorrências e inquéritos relativos a 2020 apresentados, ao destacar a necessidade de se levar em conta diversos fatores, como o guarda-chuva de crimes e a identificação de orientação sexual e identidade de gênero nos registros de ocorrência. 

Por sua vez, a coordenadora de Políticas de Proteção e Promoção de Direitos e Cidadania LGBT da Secretaria de Justiça do DF, Paula Benete, frisou a importância do POP, bem como do levantamento do CDDH diante da carência de dados estatísticos sobre o assunto. Também corroborou com a relevância da pesquisa para as políticas públicas a coordenadora do Conselho Nacional de Combate a Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT, Kátia Guimarães. 

“Os diagnósticos são fundamentais na implantação de políticas públicas”, reforçou a promotora Cíntia Costa da Silva, que é coordenadora do núcleo de direitos humanos do Ministério Público do DF e Territórios. Ela também relatou as dificuldades no combate e na punição às condutas de homotransfobia. 

Vários participantes defenderam a necessidade de observatórios e pesquisas sobre a temática, como Ronan Figueiredo, do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do DF, e Andreia Simplicio, gerente de Diversidade da Secretaria da Mulher do DF, que ainda sugeriu a transversalidade de pautas e agendas. Assentiu com a criação de um observatório a representante da Secretaria de Segurança Pública do DF, Dayse Andrade. 

Uma rede de direitos humanos que possa abranger todos foi a sugestão da vice-presidente do Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Maria de Jesus Muniz. Outros representantes civis da população LGBT também se manifestaram na audiência, como Raphael Seixo, do Coletivo Juntos LGBT do DF, e Pedro Ivo, do Fórum de Lutas LGBTQI+, que reiteraram a necessidade de políticas públicas afirmativas.

Liberdade de ser

Ao citar que no dia 17 de maio se resgata a descriminalização da homossexualidade, a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) argumentou pela “liberdade de ser e de amar” e pela luta identitária contra os modelos excludentes. Ao se unir à fala da parlamentar no combate à LGBTfobia, o deputado Fábio Felix reforçou que o debate de hoje representou uma reflexão e um marco em referência ao dia 17.

O parlamentar anunciou ainda que a Frente Parlamentar para Proteção e Promoção da Cidadania LGBTI+ da CLDF fará um seminário em junho sobre os direitos dessa população.

Franci Moraes - Agência CLDF

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