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Em votação apertada, CLDF aprova moção de repúdio a peça sobre educação sexual

Publicado em 22/05/2018 16h53

Um vídeo de uma cena da peça teatral "O Auto da Camisinha", explicando como utilizar um preservativo masculino, causou polêmica nas redes sociais e fez o debate chegar ao plenário da Câmara Legislativa nesta terça-feira (22). Durante a sessão desta tarde, uma moção de repúdio à apresentação da peça em escolas públicas do Distrito Federal polarizou a discussão entre os distritais – que, por nove votos a oito, acabaram aprovando a proposta dos deputados Sandra Faraj (PR), Rodrigo Delmasso (PRB), Julio Cesar (PRB) e Rafael Prudente (MDB).

Voltada para o público adolescente, a peça "O Auto da Camisinha" trata de temas como sexo e doenças sexualmente transmissíveis, a exemplo da Aids, de maneira direta e com linguajar popular. O espetáculo, do grupo teatral Hierofante, já foi exibido em vários estados do Brasil e em outros países, como os Estados Unidos. Os autores da moção de repúdio argumentam, contudo, que a apresentação da peça no último dia 8 de maio no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 03 de Planaltina, bem como em outros dias e localidades, foi inadequada e contrariou o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), por conter "encenações e músicas obscenas".

"A educação sexual tem de ser feita por pessoas capacitadas. É uma peça vulgar e pornográfica. A aprovação da moção é um ato pedagógico", defendeu Faraj. Também autor da proposta, Delmasso disse que o ECA condena encenações que promovem a pornografia e que abuso sexual não envolve, apenas, o ato sexual em si.

Já o deputado Chico Vigilante (PT) destacou que a peça "O Auto da Camisinha" é produzida há mais de 20 anos por produtores de renome: "Não sei o porquê de tanto conflito agora. É preciso educar para evitar a gravidez indesejada e precoce, além das doenças sexualmente transmissíveis".

Injustiça – Presidente da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, o deputado Ricardo Vale (PT) lamentou o que chamou de "criminalização" dos artistas da Companhia Hierofante e apontou que o grupo já se propôs a apresentar a peça aos deputados. "Não podemos ser injustos: não conhecemos a peça e não dá para se basear num trecho de vídeo que circulou na internet", ponderou.

O deputado Professor Reginaldo Veras (PDT), por sua vez, contou que a filha assistiu à peça quando tinha 15 anos e saiu em defesa dos artistas do grupo teatral e da direção do CEF 3 de Planaltina. Ele lembrou a situação de vulnerabilidade social dos alunos daquela escola, que registra inúmeros casos de gravidez na adolescência e está cercada por três bocas de fumo. "Não vejo as pessoas repudiando tamanha violência como o fazem com essa peça", desabafou. Veras pediu aos deputados para pensarem muito antes de votarem a moção, lembrando a injustiça – e condenação social – cometida no caso da Escola Base de São Paulo, nos anos 90. "Uma mentira pode dilacerar a honradez e a dignidade das pessoas, e isso jamais se repõe", frisou.

Na mesma linha, o deputado Prof. Israel (PV) defendeu que a aprovação da moção – "uma medida tão drástica" – pode acabar com a trajetória de profissionais comprometidos. "A peça lança luz, muitas vezes exagerada, sobre um assunto que não pode ser tabu", ressaltou. E o deputado Cláudio Abrantes (PDT) completou: "Por conta da polêmica, muitos professores estão sendo perseguidos. Eles, que há anos lutam contra a criminalidade numa região de extrema vulnerabilidade".

Denise Caputo
Foto: Carlos Gandra
Comunicação Social - Câmara Legislativa

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