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Bancários apontam fraudes trabalhistas no Santander em debate sobre fechamento de agências 

Grupo Santander não enviou representante para a audiência pública; Chico Vigilante quer levar debate para âmbito federal
Publicado em 19/05/2025 15h00

Foto: Ângelo Pignaton/Agência CLDF

Os impactos do fechamento de agências bancárias, em especial do banco Santander, foram tema de audiência pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal nesta segunda-feira (19/05). Demissões de trabalhadores – sejam eles bancários, vigilantes ou de serviços de limpeza – e precarização no atendimento aos clientes estiveram entre as queixas apresentadas. Ademais, representantes dos bancários denunciaram fraudes trabalhistas pelo conglomerado Santander e alertaram para o risco de outros bancos aderirem às mesmas práticas. 

 


 

A audiência foi conduzida pelo presidente da Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) da CLDF, deputado Chico Vigilante (PT), que avaliou a situação como "gravíssima". O parlamentar informou ter solicitado ao senador Paulo Paim (RS/PT) a realização de debate sobre o assunto, em nível nacional, no Senado Federal. Ele também se comprometeu a pedir uma audiência com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e outra com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). 
 


 

Conforme destacado na audiência, todos os bancos – públicos e privados – têm reduzido, ou tentado reduzir, o número de agências físicas, não só no DF, como em todo o Brasil. "Mas o conglomerado Santander está mais avançado nesse processo, e da maneira mais gananciosa: precarizando as relações de trabalho; desrespeitando a legislação que deveria defender o consumidor, e, também, com problemas de tributação", argumentou Rodrigo Britto, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN). 

As práticas e o modus operandi do Santander foram detalhados pela diretora da Fetec/CN Elizabeth Espíndola Araújo, funcionária do banco há 13 anos. De acordo com ela, de 2020 para cá, a instituição fechou 16 agências apenas no DF: de 44, restam 28. A bancária explicou, contudo, que, na prática, esse número é menor, pois o banco concentra os códigos de várias agências num mesmo endereço físico. "Vamos encerrar este mês com 15 agências no DF", apontou. 

Araújo denunciou, ainda, uma série de indícios de fraudes trabalhistas por parte do grupo Santander. Segundo informou, o banco estaria criando outras empresas para prestarem serviço para ele mesmo, a maioria com Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) sem vínculo com o ramo financeiro. "São empresas com CNAE de call center, autoatendimento ou processamento de dados, mas que, na verdade, cuidam dos investimentos dos clientes", afirmou. 

Uma das conquências disso é a precarização das relações de trabalho: ao ser contratado – ou recontratado – por uma dessas empresas do grupo Santander, o trabalhador perde os direitos da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários, a jornada de seis horas, a participação nos lucros e a representação pelo Sindicato dos Bancários. 
 


 

A presidente da Fetec-CUT/SP, Aline Molina Gomes Amorim, avaliou esse processo como "terceirização fraudulenta": "Estão fazendo o mesmo trabalho com menos direitos e um salário menor". A sindicalista criticou, também, "a redução do quadro de trabalhadores em um contexto de lucro recorde". 

"Tudo isso gera uma concorrência desleal e o risco de outros bancos seguirem as mesmas práticas", alertou Elizabeth Araújo. 

Desemprego 

A presidente do Sindiserviços-DF, Maria Isabel Caetano, lamentou o fechamento de agências de vários bancos no DF. "Não veem o terceirizado como trabalhador e acham que podem substituir o ser humano. Quantos vão ficar desempregados?", questionou. 

"Todos os bancos estão fechando agências, e quem está sofrendo somos nós, os terceirizados. Temos de sair daqui e fazer algum ato, uma ação conjunta dos sindicatos", conclamou Paulo Quadros, presidente do Sindicato dos Vigilantes do DF. 

Relação com clientes 
 


 

Durante a audiência pública desta manhã, muitos participantes abordaram também as desvantagens e prejuízos da falta de atendimento presencial para os clientes dos bancos. "Boa parte da nossa população não tem acesso à tecnologia como nós imaginamos", destacou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/DF), Rodrigo Rodrigues. "Fechar uma agência quer dizer restringir o acesso a uma informação mais confiável", acrescentou. 

Aline Molina apontou ainda que, a despeito dos lucros dos bancos e da redução dos custos com o fechamento de agências, as tarifas bancárias não diminuíram. Além disso, a bancária lembrou que os atendimentos não presenciais respondem por inúmeros golpes praticados, especialmente, contra idosos: "A internet é onde mais as pessoas idosas caem em fraudes, e o banco não se responsabiliza". 

Denise Caputo - Agência CLDF