Criação de um centro de tratamento da endometriose é demanda de audiência pública
Criação de um centro de tratamento da endometriose é demanda de audiência pública

A criação de um centro multidisciplinar para o tratamento da endometriose no DF foi uma das principais demandas da audiência pública que debateu sobre a doença na manhã desta quarta-feira (22) em plenário. A endometriose, que atinge uma em cada dez mulheres no mundo, pode apresentar, entre outros sintomas, cólica menstrual progressiva, dor durante a relação sexual, dor e sangramento ao urinar, ao evacuar, inchaço, náuseas e vômitos, constipação e diarreia, além de problemas de infertilidade. O evento, que reuniu médicos especialistas, portadoras da doença, representantes do governo e parlamentares, faz parte do Dia Internacional de Luta contra a Endometriose, no dia 8 deste mês, e da EndoMarcha, Marcha Mundial de Conscientização da Endometriose, no próximo dia 30.
Os mediadores do encontro, deputados Claudio Abrantes (PDT) e Reginaldo Sardinha (Avante), defenderam políticas públicas para o enfrentamento do problema. Abrantes, que trouxe o debate à Casa em 2016, disse que "com o novo governo temos a esperança de avançar na melhora do tratamento para os que sofrem com o problema no dia a dia". Ele reconheceu que é preciso ser mais "incisivo" para que as políticas públicas possam chegar efetivamente às mulheres.
"Sou sensível à causa por ter lutado com minha esposa contra a doença; não é só a mulher que sofre, é a família inteira", afirmou o deputado Sardinha. Ele considerou que a endometriose é "pouco assistida pelo SUS", sendo que o tratamento adequado é um desafio para o DF. Nesse sentido, os parlamentares querem criar uma frente parlamentar para acompanhar a questão e também apoiar a EndoMarcha no DF.
Centro de Excelência – Diversos participantes da audiência argumentaram a favor da criação de um centro de excelência multidisciplinar no Distrito Federal para tratamento da doença, como a ginecologista Lizandra Paravidine. "A endometriose tem tratamento e saúde é direito de todos", proclamou. Ela apresentou dados mundiais mostrando que os custos com as consequências da doença representam o dobro dos custos com o tratamento.
Paravidine, que é chefe da Unidade Materno-Infantil do Hospital Universitário de Brasília, explicou que a doença é a presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina que induz à reação inflamatória crônica. De acordo com a médica, são necessários exames para o correto diagnóstico, como a ultrassonografia, a ressonância e a vídeo laparoscopia, a qual inclusive possibilita a cirurgia de remoção de tecido endometrial.
Também o ginecologista Jânio Serafim, da Unidade de Ginecologia Oncológica do Hospital de Base, corroborou com a necessidade de um centro específico voltado à endometriose. O médico narrou que muitas pacientes chegam naquela unidade com quadro de endometriose porque ficam meses "peregrinando" na rede pública em busca de tratamento adequado.
Segundo o médico especialista em endometriose, Alisson Zanatta, os grandes avanços na área são os exames de imagem, que permitem entender a doença e avançar no diagnóstico e tratamento. "A endometriose é um desafio mundial", afirmou, ao apoiar encontros como a audiência pública de hoje, quando os envolvidos têm a chance de trocar informações e discutir políticas públicas. "No DF temos a oportunidade de criar um modelo e sermos referência", acredita. Já a representante da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Hitomi Miura Nakagawa, abordou a relação entre endometriose e infertilidade. De acordo com a médica, a doença compromete a saúde reprodutiva da mulher.
Representante da Secretaria de Saúde do DF, a ginecologista Marta Betânia Teixeira disse que o órgão tentará "seguir a linha de intenções" apontada pela audiência. Médica da Secretaria há quase vinte anos, ela concordou que a doença requer uma atuação multidisciplinar. "É um assunto que precisa ter prioridade", afirmou.
Depoimentos – Diversas portadoras narraram sobre os sofrimentos pessoais causados pela doença e também a luta em busca de tratamento, entre elas a servidora Tatiana dos Santos. Ela contou que sofreu com a doença desde a adolescência até realizar a cirurgia de endometriose há seis anos e que sua qualidade de vida melhorou "substancialmente", inclusive a produtividade no trabalho, após o procedimento cirúrgico. Representante da Endomarcha no DF, Tatiana argumentou sobre a conscientização: "Portadoras sofrem caldas e não são vistas". Ela entregou um documento aos parlamentares com várias demandas das portadoras, como tratamento pelo SUS, acesso a convênio com médicos especialistas, direito à realização da cirurgia de endometriose, entre outros pontos. Outras portadoras pediram ainda o reconhecimento da endometriose como doença social e crônica.
Franci Moraes
Fotos: Silvio Abdon/CLDF
Núcleo de Jornalismo - Câmara Legislativa