Audiência pública debate residência médica no DF
Audiência pública debate residência médica no DF

Ao fazer seu pronunciamento, o diretor-geral da Escola Superior de Ciências da Saúde (FEPECS), Mourad Belaciano, disse que o fazia na condição de médico e educador, com experiência em gestão de recursos médicos. Lembrou ele ser impossível discutir residência médica sem mencionar a formação médica, por se tratar de processo contínuo. Belaciano afirmou que o modelo atual da residência médica se assenta sobre uma legislação anacrônica e atrasada, mas que é imperativo lançar um olhar crítico sobre a situação, como ponto de partida para adotar uma regulação transparente, compatível com as necessidades dos residentes e com a importância de sua contribuição para viabilizar a assistência à saúde no DF.
O residente em Neurologia do Hospital de Base de Brasília e presidente da Associação Brasiliense de Médicos Residente – Abramer, Hamilton Cirne Fernando Franco, criticou o crescimento exagerado de vagas nos cursos médicos, que não se fez acompanhar do aumento de vagas nas residências médicas, produzindo reflexo negativo na qualidade do atendimento à saúde nos hospitais públicos.
Cirne Filho reclamou da completa falta de recursos com que se depara a categoria, a par com outros problemas como a ausência de atualização dos profissionais médicos que orientam os residentes, e, principalmente, da inexistência de uma fiscalização ativa dos programas, por uma comissão imparcial, que se responsabilize por todas as residências de todos os hospitais. O coordenador da Comissão de Residência Médica do Hospital Regional da Asa Norte e vice-diretor da Comissão Distrital de Residência Médica, José Henrique Leal Araújo, atentou que os programas precisam ser reavaliados, a fim de atender prioritariamente às demandas locais. Leal observou, por exemplo, que as opções dos residentes, por falta de planejamento, voltam-se para as especializações, em detrimento da formação de generalistas. Mas apontou, entre as dificuldades atuais, até a falta de sede para a Comissão Distrital de Residência Médica, cujo trabalho é executado de forma voluntária.
Célio Luís Brandão Filho, médico residente de Ortopedia no Hospital Regional do Paranoá ao citar vários problemas da residência médica, classificou-a de "mão-de-obra barata para o Estado, onde os residentes sofrem com a falta de infra-estrutura, equipamentos e preceptores. Já fomos alertados: não briguem, pode haver represálias. Onde recorrer; a quem devo procurar para resolver a situação?", questionou.
:Mariana Menegusso Nogueira de Souza, residente de Clínica Médica do Hospital Regional de Sobradinho, disse que a unidade tem mais de 20 anos de tradição e denunciou que os residentes do HRS são muitas vezes obrigados a cobrir o quadro do staff; o excesso de pacientes; e a sobrecarga de trabalho que prejudica as aulas e a aprendizagem dos residentes. "Aquele não é um hospital-escola e sim um hospital assistencialista. Pela primeira vez, dois residentes tiveram que desistir só nesse ano", concluiu.
O representante do secretário de Saúde, Lúcio Lucas, afirmou que o debate trouxe à tona vários pontos importantes para a formação dos residentes, envolvendo estrutura de apoio e capacitação dos médicos e preceptores, entre outros. Lucas adiantou que a Secretaria tem o maior interesse em viabilizar as conclusões tiradas da audiência, a fim de realmente contribuir para a solução de problemas reconhecidamente graves.