Adoções são dificultadas pelo perfil das crianças exigido pelas famílias
Adoções são dificultadas pelo perfil das crianças exigido pelas famílias

Especialistas defenderam, durante sessão solene em comemoração ao Dia Nacional da Adoção, na tarde desta sexta-feira, a necessidade de se buscar a reestruturação familiar antes de destinar crianças e adolescentes à adoção. Eles também destacaram a importância da convivência familiar e comunitária para o pleno desenvolvimento de meninos e meninas. Na solenidade, proposta pelo deputado Robério Negreiros (PMDB), realizada no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal, os participantes foram unânimes em colocar a adoção como último recurso e apontaram as exigências, por parte de quem adota, "uma espécie de perfil padrão", como principal obstáculo para se encontrar uma nova família.
Na opinião do deputado Robério Negreiros a adoção é uma prova de persistência. Para ele, o direito da criança e do adolescente deve ser o elemento principal nos processos de adoção e não o desejo de famílias por crianças de determinado perfil. Segundo dados do IPEA, apresentados pelo parlamentar, existem atualmente no Brasil 80 mil crianças e adolescentes abrigados. Deste total, apenas oito mil estão aptas para adoção.
Já o número de famílias habilitadas para adotar uma criança chega a 30 mil. Mesmo assim, as crianças continuam esperando novas famílias porque não se encaixam em padrões pré-estabelecidos de idade e cor. Durante a sessão foi exibido um vídeo da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) sobre a adoção consciente, que conta histórias de crianças adotadas de maneira irregular e suas consequências, como exploração no trabalho doméstico, maus-tratos e muito sofrimento. A mensagem da campanha da AMB é em defesa da adoção legal, que pode parecer mais demorada, mas assegura que todo o processo seja feito de maneira correta.
A sessão contou ainda com depoimentos de famílias que relataram suas experiências de adoção, como o casal Ecimar e Poliana Loly que adotou três irmãos com idades entre 7 e 10 anos. O casal já tem outros três filhos biológicos e resolveu mudar o perfil de criança pretendida após ser sensibilizado por cursos da Vara da Infância e ao conhecer os irmãos. "Com a adoção, a gente descobre que tem uma capacidade de amar muito maior do que imagina", disse Ecimar. Outro pai, Fábio Rodrigues de Souza também contou que inicialmente queria adotar uma menina e acabou adotando três irmãos.
"Para discutir adoção é necessário, sobretudo, sensibilidade", disse o juiz titular da Vara da Infância e Juventude do DF, Renato Rodovalho, ao abrir sua apresentação. O juiz destacou os avanços da Lei 12.010/2009, como a obrigatoriedade de cursos de preparação, fixação de prazos para as etapas e a previsão legal para que gestantes e mães possam dar seus filhos para adoção, entre outros pontos. Apesar dos avanços, Rodovalho frisou que a busca da convivência familiar e comunitária deve ser a luta prioritária, a adoção um último recurso para a garantia dos direitos da criança e do adolescente.
Esquecidas - Fabiana Gadelha, vice-presidente da ONG Aconchego, de apoio a grupos de adoção, chamou a atenção para o fato de que a grande maioria das crianças que estão hoje nos abrigos jamais terá oportunidade de ter uma nova família. "Só a adoção não resolve a situação dessas crianças. É necessário que todos os setores da sociedade criem condições para que essas crianças não cheguem nessa situação", defendeu ela.
Hoje no DF existem cerca de 460 crianças abrigadas, sendo que 135 estão aptas para adoção, segundo os números apresentados na sessão solene. Das 135, 90 já tem entre 11 e 18 anos e dificilmente encontrarão um novo lar. Nenhuma das famílias habilitadas para adoção no DF colocou em seu cadastro o interesse em adotar adolescentes.
Walter Gomes de Souza, supervisor da seção de colocação em família substituta, afirmou que o descompasso entre o perfil das crianças colocadas para adoção e o desejado pelas famílias que pretendem adotar é um grande obstáculo. "Temos que sensibilizar a sociedade para a necessidade da flexibilização do perfil, a chamada adoção tardia", assinalou.
Sérgio Domingos, defensor público coordenador Núcleo da Infância e da Juventude do DF, destacou o papel dos conselhos tutelares para a garantia da convivência familiar e comunitária das crianças e adolescentes. Já a secretária executiva da Comissão Distrital Judiciária da Adoção, Thais Botelho Correia, ressaltou que as crianças precisam ser ouvidas. Segundo ela, boa parte das crianças não quer ser adotada, mas voltar para a convivência de suas famílias, mesmo quando isso não é mais possível. "É necessário preparar essa criança para que ela possa compreender melhor a situação", sugeriu.
Data - O Dia Nacional da Adoção é comemorado desde 1996, no dia 25 de maio, a partir da realização de um encontro nacional de associações e grupos de adoção.
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