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Envelhecimento saudável é tema do II Fórum Internacional Sábias Vivências 2025

Evento reuniu pesquisadores de universidades do Brasil e da Itália
Publicado em 25/08/2025 14h44

Foto: Rinaldo Morelli/ Agência CLDF

Com o objetivo de compartilhar experiências sobre o envelhecimento saudável e estimular o intercâmbio de ideias entre pesquisadores, parlamentares e a sociedade, a Câmara Legislativa do DF abriu, nesta segunda-feira (25), o II Fórum Internacional Sábias Vivências 2025, evento organizado pela Procuradoria Especial de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa - PRO60+, em parceria com a Rede Internacional de Pesquisas em Gerontologia e Sistemas de Cuidados no Envelhecimento (Rede Geronto).

Na abertura do evento, o procurador especial do idoso, deputado Chico Vigilante (PT), ressaltou que o Brasil ainda tem muito a avançar nas pautas relacionadas à terceira idade. Para ele, a causa precisa ganhar relevância no debate político e social, uma vez que os indicadores apontam o envelhecimento da população brasileira.

“Infelizmente, o idoso no Brasil é muito maltratado. Todo mundo protesta reivindicando creche para as crianças, e eu concordo. Todo mundo exige um atendimento médico-hospitalar diferenciado para as crianças, e é importante que tenha. Mas, e os idosos? A gente vai continuar aceitando uma cidade em que o idoso sequer pode caminhar em razão da destruição das calçadas?”, refletiu o distrital.

Vigilante aproveitou para mencionar iniciativas em âmbito distrital que reforçam a luta em prol da terceira idade. Uma delas é a Lei nº 7.298/2023, de sua autoria, que reduziu de 65 para 60 anos a prioridade no embarque e gratuidades nos ônibus do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF.

O parlamentar comentou ainda sobre casos de sucesso em outros países, como China e Itália, e frisou que o Brasil pode adotar medidas semelhantes em benefício da causa. “Nós queremos fazer com que, aqui no Brasil, o idoso seja respeitado e que seus direitos sejam garantidos”, frisou.

 

Foto: Hannah Duarte/ Assessoria Chico Vigiante


Demência e estigma social

O primeiro evento do fórum foi uma mesa redonda que reuniu especialistas do Brasil e da Itália com o tema "Envelhecimento Saudável e a Perspectiva da Longevidade em um Mundo Real, Local e Global". A demência foi o tema central da apresentação do geriatra e pesquisador italiano Andrea Fabbo.

O médico destacou que a demência não é uma doença única, mas um conjunto de sintomas provocados pela deterioração do cérebro, que incluem alterações cognitivas, comportamentais, psicológicas e dificuldades para realizar atividades da vida diária. Embora existam mais de 100 doenças relacionadas, o Alzheimer é a forma mais comum, representando cerca de 80% dos casos.

Os dados apresentados reforçam que o envelhecimento populacional é um desafio global. Projeções do IBGE mostram que, no Brasil, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais quase dobrou entre 2000 e 2023, passando de 8,7% para 15,6% da população. Até 2070, a expectativa é que os idosos representem 37,8% dos brasileiros. O cenário se repete no mundo: até 2050, uma em cada três pessoas terá mais de 65 anos, e uma em cada dez ultrapassará os 80 anos.

O pesquisador destacou que o avanço da demência acarreta dependência funcional, preconceito e exclusão. Para os cuidadores, as consequências incluem sobrecarga emocional, física e financeira. O especialista ressaltou que cada fase da doença demanda estratégias específicas de apoio, desde a promoção de hábitos de vida saudáveis até cuidados paliativos nas fases mais avançadas.

 

Foto: Rinaldo Morelli/ Agência CLDF


Outro ponto enfatizado foi o alto nível de estigmatização ainda associado à demência. Dados globais mostram que 80% da população acredita, de forma equivocada, que a demência faz parte natural do envelhecimento; inclusive 65% dos profissionais de saúde compartilham dessa visão. “Esse estigma gera isolamento, perda de papel social e falta de participação comunitária para os pacientes”, ressalta Fabbo.

Segundo ele, identificar a demência precocemente é crucial. O diagnóstico na fase inicial possibilita melhor organização dos serviços de apoio, reduz incertezas familiares e fortalece a capacidade de pacientes e cuidadores lidarem com a doença de forma conjunta e no nível emocional.

A experiência italiana também foi compartilhada como exemplo de modelo de intervenção social. O projeto Dementia Friendly Communities já está ativo em países da Europa, Japão, Canadá e Austrália, e busca combater o isolamento, reduzir crises e dividir a responsabilidade do cuidado com toda a comunidade. As ações incluem conscientização, formação cultural e apoio a iniciativas de inclusão, criando ambientes mais acolhedores para pessoas com demência e suas famílias.

O ponto de partida, segundo o especialista, deve ser sempre o reconhecimento de que “qualquer pessoa diagnosticada com demência tem o direito de viver uma vida que valha a pena ser vivida”. Isso só é possível com apoio familiar, envolvimento comunitário e políticas públicas que assegurem dignidade e não discriminação.

 

Foto: Hannah Duarte/ Assessoria Chico Vigiante

 

Capacitação

A pesquisadora e professora da Universidade de Brasília (UnB) Margô Karnikowski trouxe para o debate a necessidade de se formar pessoas que saibam lidar com as características do idoso na sociedade. Seja nas relações privadas, profissionais ou familiares, a avaliação é que o brasileiro não vem sendo capacitado a dar o suporte necessário às demandas da terceira idade.

“Precisamos do apoio social qualificado. Quem precisa falar por nós? nós mesmos. Temos que transformar Brasília num lugar profícuo para se viver em todas as fases da vida”, defendeu.

A mediadora da mesa redonda e diretora da Rede Geronto, Suzana Schwerz Funghetto, destacou a necessidade de incentivo à formação escolar e acadêmica de idosos, mas também alertou que é preciso capacitar docentes para isso. “Temos que melhorar a formação de professores para o envelhecimento. Não adianta abrir a porta da universidade ou da escola se não a porta da formação de professores”, pontuou.

A mesa redonda contou também com a participação da pesquisadora da Università degli Studi di Parma Maria Augusta Nicoli. A programação do fórum segue na tarde desta segunda-feira (25) e terá uma segunda parte no dia 7 de outubro, com a apresentação dos trabalhos científicos que serão publicados na Revista Diálogos em Gerontologia. O evento pode hoje pode ser assistido na íntegra pelo YouTube da CLDF.

Christopher Gama/ Agência CLDF de Notícias