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[Entrevista] Engenheiro, médico e ecólogo da CLDF respondem questões sobre o uso do ar-condicionado

Com a pandemia da Covid 19, a questão da qualidade do ar voltou a ser um assunto muito importante a ser debatido, já que a doença pode ser transmitida pelo ar.

Nesse contexto, o uso do ar-condicionado é um dos temas mais complexos, já que está presente no cotidiano das pessoas, principalmente no ambiente de trabalho e locais públicos. O assunto gera uma série de discussões, que incluem saúde e qualidade de vida.

O Ecolegis conversou com três profissionais da CLDF para montar um panorama sobre o uso o ar-condicionado na sede da instituição, em casa e em locais públicos, adaptando o tema ao atual contexto da pandemia e de teletrabalho.

Foram entrevistados Bairon Emiliano Pereira da Silva (engenheiro mecânico/DAF), Dr. Hugo Ricardo Valim de Castro (médico do trabalho/SAS) e Uirá Felipe Lourenço (ecólogo/CDESCTMAT).

Fabrício: Como funciona nosso sistema de ar-condicionado na CLDF? Qual é a rotina de ligamento e desligamento do sistema?

Bairon: O sistema de refrigeração utilizado na CLDF é por meio de um Ar-Condicionado Central a Água Gelada, o qual possui três torres de resfriamento e dois “chillers” *. O funcionamento é de acordo com a rotina do prédio e as condições ambientais apresentadas. Normalmente, em dias de expediente todo o sistema é ligado pela manhã, por volta de 7h30 e funciona até mais ou menos as 20h, ou quando a CLDF for desocupada, em situações de plenário até mais tarde. Porém, devido à pandemia, nem todos os “fan coils” ** estão sendo ligados, uma vez que a carga térmica demandada é baixa. Por isso, os “fan coils” estão sendo ligados apenas quando solicitado pelos variados setores.

* Um chiller é um aparelho de ar condicionado com sistema baseado no resfriamento de água. De maneira resumida, ele resfria grandes ambientes através de água gelada e não apenas fluido refrigerante.

** O Fan coil de Climatização é um equipamento utilizado em Projetos de Climatização, Aquecimento e Ventilação que utiliza ventiladores para Aquecer ou Resfriar um ambiente com a opção de dutos ou insuflamento direto.

Fabrício: Como e por quem é feita a manutenção?

Bairon: A manutenção é feita por uma empresa contratada, atualmente a Climática Engenharia. A manutenção segue um cronograma específico, que começa a ser executado sempre por volta do dia 5 de cada mês. Pra cada equipamento, existe um roteiro técnico de manutenção. De forma geral, executa-se: limpeza, medições, análise da água, inspeção visual, ajustes e reapertos, substituição de peças e componentes etc. Todo o serviço é realizado por técnicos especializados em refrigeração e ar-condicionado. Além disso, a empresa mantém uma equipe técnica in loco, para operar todo o sistema.

Fabrício: Que problemas vocês enfrentam no dia a dia (manutenção, reclamações, uso inadequado...)?

Bairon: No dia a dia, observa-se algumas reclamações de variados setores a respeito de algum desconforto térmico. Por isso, é feito um controle diário de solicitações de temperatura e com isso, o “setpoint”* de cada equipamento é alterado em um curto espaço de tempo, fato que não configura uma boa prática para o equipamento. Além disso, muitas salas deixam suas janelas abertas, o que ocasiona a diminuição da eficiência térmica do sistema.

* Setpoint é o valor alvo no qual um controlador de temperatura tenta manter a variável de processo. Isto pode ser conseguido ajustando a potência de saída de controle (a variável de correção).

Fabrício: Qual o custo médio mensal de energia e de manutenção?

Bairon: O custo de energia é sazonal e o de manutenção segue conforme o contrato. Em termos de valores, tem-se por exemplo, o consumo de 43.330kWh no mês de abril de 2021 referente à Central de Água Gelada – CAG. Isso dá aproximadamente 25% do valor total da conta de energia mensal, cerca de R$ 50 mil. Já em relação ao custo da manutenção, tem-se o valor mensal aproximadamente R$50.000,00. Logo, o custo total (energia + manutenção) estimado de forma simplificada dá um total de R$ 100 mil.

 *Os dados aqui apresentados são rápidas estimativas e não devem ser considerados como exatos.

Fabrício: O sistema poderia funcionar melhor? Como seria?  Existe a viabilidade técnica de controlar o funcionamento do ar-condicionado em cada sala?

Bairon: O sistema de ar-condicionado com uma central de água gelada é um dos mais eficientes para instalações prediais, como é o caso da CLDF. Todos os procedimentos operacionais e de manutenção diariamente realizados visam manter a alta eficiência do sistema. Quanto ao controle de temperatura individualizado de cada sala, é possível parcialmente, pois os “fan coils” instalados nos corredores, são máquinas que atendem a um conjunto de salas, logo, o controle é por região e não por salas. Além disso, medidas como a instalação de colarinhos nas saídas de ar já foram implementadas e em alguns setores, já é possível alterar a abertura nos dutos de ar, objetivando mais ou menos vazão, fato que também influencia diretamente no conforto térmico.

Fabrício: De que forma o servidor pode colaborar para otimizar o uso racional e colaborar com o melhor funcionamento geral?

Bairon: A partir do momento em que o sistema for ligado, o ideal é que os servidores fechem as janelas de seus setores para que o equipamento consiga refrigerar adequadamente os ambientes. Além disso, espera-se a colaboração dos servidores sempre que notarem quaisquer intercorrências ou problemas no ar-condicionado, avisando imediatamente a equipe técnica.

Fabrício: Qual o impacto do uso do ar-condicionado na saúde do trabalhador da CLDF?

Dr. Hugo: Algumas pessoas têm mais propensão às alergias respiratórias e essas pessoas costumam ser as que mais sofrem com o uso prolongado do ar-condicionado. Patologias como rinites, sinusites e crises asmáticas são mais frequentes em indivíduos que trabalham em ambientes fechados e sem ventilação natural. Os principais efeitos são diminuição da qualidade de vida, afastamentos frequentes do trabalho e redução da produtividade.

Fabrício: Existe uma regra para a temperatura ideal do ambiente?

Dr. Hugo: De acordo com a NR17 – Ergonomia, nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condições de conforto:

a) temperatura efetiva entre 20ºC e 23ºC;

b) velocidade do ar não superior a 0,75m/s;

c) umidade relativa do ar superior a 40 %.

Fabrício: Há controle de qualidade do ar nos ambientes?

Dr. Hugo: A Resolução de Diretoria Colegiada Anvisa nº 9, de 16/1/2003, estabelece a necessidade de avaliação semestral da qualidade do ar, inclusive com a realização de exames microbiológicos por testes de amostragem do ar ambiente.

Fabrício: Como utilizar o ar-condicionado sem prejudicar a saúde?

Dr. Hugo: A principal forma de utilizar o ar-condicionado sem prejudicar a saúde do trabalhador é obedecendo às normas previstas para a ambientes climatizados, fazendo as manutenções preventivas dos aparelhos e as avaliações periódicas de qualidade do ar ambiente.

Fabrício: Há dados sobre o impacto do ar-condicionado no servidor na CLDF (por exemplo, desconforto e doenças alérgicas)?

Dr. Hugo: Atualmente, é possível especificar os motivos dos afastamentos em função dos CIDs dos atestados médicos, mas a Casa ainda não dispõe de um mecanismo que permita quantificar com precisão as patologias associadas à climatização. Esperamos que as funcionalidades do novo prontuário médico eletrônico aumentem as possibilidades de coleta e utilização de dados relativos à saúde dos servidores.

Fabrício: Havendo possibilidade, a ventilação natural deve ser uma opção?

Dr. Hugo: Sim, sempre que for possível manter os parâmetros de conforto térmico descritos na NR17 – Ergonomia, recomenda-se a utilização da ventilação natural.

Fabrício: Em tempos de pandemia, existe uma relação entre ar-condicionado, ambiente fechado ou aberto e possibilidade de contágio pelo coronavírus e outras doenças?

Dr. Hugo: A presença de indivíduos em ambiente fechado e não ventilado propicia a transmissão do coronavírus, bem como de outros vírus e bactérias de transmissão predominantemente aérea.

Fabrício: Isso se aplica de forma geral, em casa ou lugares públicos?

Dr. Hugo: Sim. Em qualquer ambiente onde ocorra agrupamento de pessoas e não há ventilação, resta aumentado o risco de transmissão de doenças respiratórias infecciosas.

Fabrício: Qual o papel do Ecolegis em relação ao uso do ar-condicionado no ambiente de trabalho da CLDF?

Uirá: Estamos em fase de elaboração do Plano de Logística Sustentável (PLS), que consiste em traçar ações e metas relativas à sustentabilidade. Um dos seis eixos temáticos do plano reúne as ações de energia. Sabe-se que o ar-condicionado é o principal item de consumo de energia em prédios públicos e, por isso, propomos algumas medidas com o objetivo de otimizar o uso, tais como: plano de utilização do sistema de ar-condicionado, com predefinição do horário de funcionamento; e elaboração de estudo de viabilidade da redução do uso dos equipamentos de climatização.

Temos discutido o PLS com diferentes setores da CLDF para apresentar e validar as ações e metas. Quanto ao ar-condicionado, é importante ressaltar que, além do impacto no consumo de energia, a otimização do sistema resultará em melhorias na saúde e na qualidade de vida. Outra ação prevê o aproveitamento da ventilação e da iluminação naturais. Com os ambientes arejados, nos locais com boa ventilação, pode-se garantir conforto térmico com redução no consumo de energia. A ventilação natural é um fator a ser considerado também por conta da pandemia.   

Fabrício: Existe algum projeto futuro ou em andamento em relação ao melhor uso do sistema de ar?

Uirá: Conforme relatei, estamos construindo o Plano de Logística Sustentável (PLS), que reúne as ações voltadas à sustentabilidade. Os seis eixos temáticos são: água, energia, resíduos, TI Verde, qualidade de vida e licitações sustentáveis. O plano contém as ações de infraestrutura e as campanhas de sensibilização que o EcoLegis realiza regularmente, como o Desafio Vertical, Adote um Copo e orientações para a coleta seletiva.

Com o trabalho remoto nesse período de pandemia, temos pensado em sensibilização voltada ao prédio da CLDF e também ao ambiente doméstico. No caso da otimização do ar-condicionado, o servidor da Casa pode, por exemplo, buscar adequação em casa e aproveitar a ventilação natural. A parceria com a Comunicação Social é importante na produção de material, a exemplo da campanha recente (vídeo) para celebrar o Dia Mundial da Água, que contou com a participação de servidores, que mostraram boas iniciativas em casa.  

Fabrício: Que dicas pode dar para que possa ser equacionada a relação entre conforto térmico, qualidade de vida no trabalho e sustentabilidade?

Uirá: Uma dica é aproveitar ao máximo a ventilação natural, em casa ou na CLDF. Na minha sala, eu costumava pedir para desligar o ar-condicionado e, então, abria as janelas. As condições de ventilação, em geral, são muito boas no prédio. O único cuidado é não sobrecarregar o sistema de ar-condicionado, não abrir as janelas com a refrigeração ligada.

Outra dica é regular bem a temperatura do ar-condicionado. A temperatura recomendada em ambiente de trabalho é por volta de 22°C. No prédio da CLDF, basta ligar para o setor responsável (ramal 8591) e informar a temperatura que se quer, caso esteja muito frio ou quente o ambiente. Assim é possível equacionar consumo de energia e conforto térmico.  

Se você ficou com alguma dúvida ou quer falar um pouco mais sobre o assunto com um dos especialistas, entre em contato:

Bairon (DAF): ramal 8559 ou bairon.silva@cl.df.gov.br

Manutenção do ar-condicionado: ramal 8591

Dr. Hugo (SAS): 8556 ou hugo.castro@cl.df.gov.br

Uira (Ecolegis): 8506 uira.loutenco@cl.df.gov.br

Entrevista: Fabrício Veloso, membro do Ecolegis e técnico do Núcleo de Comunicação Interna – NCI.

Revisão: Lisflávia Reis, Relações Públicas (consultora técnica) do Núcleo de Comunicação Interna - NCI.